quarta-feira, 28 de junho de 2017

A Grande Guerra não teve lugar só nas trincheiras da Flandres ou nos solos de África

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Chegou também a Portugal. Em Julho completam-se 100 anos sobre o afundamento do caça-minas Roberto Ivens, que tirou a vida a 15 marinheiros portugueses.
Por Paulo Costa -  Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (*)

Quando, em Março de 1916, Portugal entrou na Grande Guerra ao lado dos Aliados, as águas territoriais portuguesas no Atlântico Norte - tanto no Continente como na Madeira e Açores, e até Cabo Verde -, passaram a ser terreno de caça para os submarinos imperiais alemães.
Navegando muitas vezes à superfície e à vista da costa, os submarinos alemães atacaram a frota mercante portuguesa, do Minho ao Algarve, causando a morte a marinheiros e pescadores.
Mas, para além do perigo para a navegação que constituiu a presença destes submersíveis, surgiu uma nova e terrível ameaça: as minas submarinas.
Arma invisível e traiçoeira, as minas submarinas eram colocadas em locais onde se previa que os navios tivessem obrigatoriamente que passar, como o Cabo Raso, em Cascais, ou a Ponta de Sagres, no Algarve, ou ainda a entrada do porto de Lisboa.

Flutuando despercebidas sob a superfície das águas, explodiam por contacto com o casco de qualquer navio que tivesse a infelicidade de colidir com elas.
Para combater esta nova ameaça, a Marinha Portuguesa criou um serviço de deteção e remoção de minas submarinas, a que na gíria naval se chama «rocega».
Os navios disponíveis para este serviço foram vários arrastões de pesca que, devidamente artilhados e equipados para estas missões, passaram a ser denominados «caça-minas».
Requisitados a armadores civis, eram manobrados por uma tripulação mista, composta por marinheiros da Armada e marinheiros civis mobilizados como Auxiliares de Defesa Marítima.
Estes caça-minas operavam aos pares e tiveram como missão rocegar canais de navegação nas entradas dos portos de Lisboa e Leixões, de modo a proporcionar uma rota segura aos navios que aí faziam escala.
No dia 26 de Julho de 1917, durante uma missão de rocega na foz do rio Tejo em parelha com o rebocador Bérrio, o caça-minas 'Roberto Ivens' colidiu com uma mina que não detetou, um pouco ao sul do farol do Bugío. A explosão deu-se sensivelmente a meia-nau, partindo imediatamente o navio ao meio.

De bordo do rebocador 'Bérrio' julgaram tratar-se de um torpedo, pelo que iniciaram manobras de evasão e disparos sobre o que julgaram ser a esteira de um submarino. Só quando o fumo da explosão se dissipou e se aperceberam que tinha sido uma mina, manobraram para recolher os únicos 7 sobreviventesDos seus restantes 15 camaradas, nem sinal, volatilizados pela explosão.
O caça-minas ‘Roberto Ivens’ perdeu-se às portas de Lisboa. Foi um dos dois únicos navios que a Armada Portuguesa perdeu em ações de combate durante a Primeira Guerra Mundial, demonstrando que a Grande Guerra não teve lugar só nas trincheiras da Flandres ou nos solos de África, mas também chegou a Portugal.
O destroço do ‘Roberto Ivens’ repousa hoje ao sul do Bugío, a 36 metros de profundidade.




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